movimento estudantil

Tese: Sonhar um sonho impossível!

11/09/2009 13:17

Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder

Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável

Tocar o inacessível chão

(Chico Buarque)

Crise econômica: quem paga essa conta?

Em 2009, presenciamos o desenrolar da maior crise econômica dos últimos 80 anos. Esta crise foi fomentada pela busca capitalista insaciável pelos lucros, que levou a uma produção maior do que o consumo e a uma especulação ainda maior do que a produção, tomando dimensões sem precedentes. As principais respostas a esse cenário não são surpresas: a fim de retomar os patamares de acumulação, os governos privilegiam “salvar” os grandes bancos e empresas, ao mesmo tempo em que intensificam a exploração sobre @s trabalhador@s e o processo de retirada de direitos.

Assim, o desemprego aumenta numa escala assustadora, nossas riquezas naturais são destruídas, a fome já atinge 1 bilhão de pessoas, salários são reduzidos e se aceleram os cortes de verbas das áreas sociais, caracterizando o aprofundamento do neoliberalismo como política econômica e social. As mulheres e @s negr@s são setores ainda mais afetados, já que historicamente se localizam nos postos de trabalho mais precarizados.

No Brasil, o governo Lula segue a risca o projeto que já vinha implementando, iniciado por Collor e FHC. Não por acaso, a crise vem justificando subsídios ao agronegócio, pacotes econômicos e isenções fiscais a bancos e montadoras, manutenção do pagamento dos juros da dívida pública, medidas aliadas a maior contenção de gastos com trabalho, saúde, previdência, educação, transporte, meio-ambiente. Como conseqüência dessa política, Lula aprova as práticas de corrupção, clientelismo e nepotismo, que tem hoje em José Sarney sua principal expressão.

No estado de São Paulo, José Serra tenta se colocar como o melhor candidato dos grandes capitalistas para a disputa presidencial de 2010, competindo com a candidata de Lula, Dilma Roussef. Desse modo, o governador paulista também fez pacotes para “salvar” os banqueiros e o empresariado, principalmente do setor automobilístico, acelerou a privatização da saúde e executa a cada dia nova medida que precariza o trabalho do professorado. Além disso, através de instrumentos jurídicos, da mídia ou da repressão policial, Serra é um dos principais pivôs da ofensiva de criminalização sobre quem se mobiliza, como no lamentável caso da invasão militar na USP.

Todo esse processo, no entanto, não acontece sem resistência. Ainda que de modo pouco articulado, em países como Itália, França, Estados Unidos e Grécia, trabalhador@s e juventude saíram às ruas e se mobilizaram contra as “soluções” do capital à sua própria crise. Na América Latina, lutas antineoliberais e anti-imperialistas tem ganhado espaço. Em Honduras, a população está enfrentando um duro golpe militar no país e a implantação de uma ditadura. No Brasil, marcaram presença este ano greves e manifestações de rua, em especial do funcionalismo público, e ocupações de terra e interrupções de rodovias, protagonizadas por setores como MST e MTST.

É papel d@s estudantes a participação ativa em cada processo de luta, a resistência frente a toda forma de exploração, em especial neste momento de crise, e a intervenção lado a lado d@s trabalhador@s e dos movimentos sociais, a fim de travar a luta concreta em prol de uma transformação social efetiva.

 

Universidade em tempos de crise

A universidade cumpre funções específicas no contexto em que está inserida e é adaptada às exigências econômicas, políticas e sociais vigentes. Dessa forma, os currículos, a pesquisa e a formação de mão-de-obra são orientados para os interesses do mercado, ao invés de se deterem sobre como superar as desigualdades sociais. Num momento em que a tônica é por cortar gastos sociais do Estado, por inovações tecnológicas em ritmo acelerado e por profissionais polivalentes com salários menores, a universidade se redefine segundo esses ditames, no processo da Reforma Universitária.

O enxugamento das verbas públicas para a educação é uma das principais faces dessa reforma e se expressa, por exemplo, na falta de bibliotecas, laboratórios, professores, funcionários, assistência estudantil – problemas que se agravam com as ‘soluções’ para a crise apresentadas pelos governos. Em São Paulo, não há aumento do percentual repassado as 3 estaduais há mais de 15 anos. No plano nacional, Lula destina à educação um valor que não chega a 5% do PIB.

O processo de expansão de vagas tem se assentado sobre estes princípios e está sendo feito à revelia de garantias para a qualidade da educação, rompendo o tripé ensino, pesquisa, extensão e buscando formar mão-de-obra barata em menor tempo. O REUNI e seus correlatos estaduais, como o Novo Campus de Limeira (FCA), e a expansão via Ensino a Distância (EaD), protagonizados pelo UNIVESP e UAB, são grandes exemplos disso.

Enquanto isso, o fortalecimento da iniciativa privada na educação avança a passos largos - com reforço dos governos. Ao mesmo tempo em que o PROUNI isenta de impostos os ‘tubarões’ do ensino, garantindo que tenham seus lucros mesmo com vagas ociosas, nas públicas se abre espaço para a entrada de capital estrangeiro e para parcerias com grandes empresas e fundações, imprimindo cada vez mais a lógica da educação enquanto mercadoria.

 

E @s estudantes com isso?

O movimento estudantil (ME) não está alheio às contradições da realidade que o cerca. O neoliberalismo e seu ideário contribuem para reforçar a lógica do individualismo, da competição, da meritocracia e da apatia. Esses valores são reproduzidos pela estrutura da universidade, por meio do vestibular, da cobrança sistemática por CR alto, por certo CP e por produtividade acadêmica a qualquer custo.

Mas, se a da conjuntura impõe desafios ao ME, o papel deste não deixa de ser fundamental para questioná-la. Exemplos disso não faltam na Unicamp. Além das lutas imediatas por assistência estudantil, segurança nos campi, mais professores, ônibus da Moradia, livros nas bibliotecas, o ME da Unicamp tem avançado no sentido de inserir essas bandeiras no contexto de crítica ao modelo de universidade.

A politização sobre o processo de expansão de vagas aliado à restrição de verbas se concretizou no embate com o modelo do Novo Campus de Limeira (FCA), nas campanhas unificadas por mais verbas para a educação e na mobilização contra o UNIVESP, que além de tema de Jornal do DCE e de uma Caravana que percorreu os institutos, foi pauta da greve deste ano. A consolidação da Avaliação de Curso como instrumento de questionamento e organização frente ao sucateamento da universidade foi outro passo importante nesse sentido.

Outra bandeira levantada junto à Representação Discente (RDs) foi a da democratização da estrutura de poder da universidade, como na campanha pelo voto nulo na consulta para Reitor. A discussão da democracia se deu com embate frente às intervenções da Reitoria na organização dos estudantes, como no caso da proibição das festas nos campi - que continuam sendo organizadas inclusive como modo de protesto.

O ME deve se posicionar diante das questões que extrapolam a universidade e se alinhar com os movimentos que lutam por uma transformação social profunda. Além de pautar debates como o da crise econômica, o do meio-ambiente, o da realidade de Campinas (passe para universitários, debate com candidatos a Prefeitura), o do combate às opressões, o nosso DCE esteve nas lutas de vários segmentos em defesa dos direitos sociais, como no 1º de maio, no 8 de março, nas jornadas nacionais de lutas, nas atividades dos sem-terra, dos sem-teto, das fábricas ocupadas, dos desempregados, das comunidades atingidas por barragens e nas mobilizações de trabalhador@s na região.

Há, contudo, ainda muito que fazer, mesmo porque os ataques não param e os tempos são difíceis. Para dar conseqüência a essas lutas de forma responsável e aglutinar mais estudantes, é preciso que a composição da coordenação do DCE continue sendo um grupo coeso e coerente com suas propostas, construindo uma entidade legítima frente à luta dos estudantes, respeitando e fortalecendo a democracia das disputas travadas nos fóruns do movimento. Disputas estas que não devem ser transpostas para o interior da gestão, o que colocaria obstáculos à viabilização de suas ações e esvaziaria uma plataforma política bem definida.

 

Lutar quando é fácil ceder!

Os desafios por que passa o ME da Unicamp não são exclusivos daqui. Nacionalmente, o ME, em que pese a importância dos processos de resistência ocorridos nos últimos anos, se encontra hegemonizado pelo senso comum, pela apatia e pela política de conciliação com o governo federal.

A UNE não está imune diante desse cenário. Sua direção majoritária, representada por setores como a UJS e o Mutirão, seguem totalmente atrelados ao governo federal e aprovam medidas como o PROUNI, o REUNI e o EaD como políticas de expansão de vagas, abandonando a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Exemplo da política que a entidade vem representando foi a realização do Encontro de Prounistas durante o CONUNE deste ano, que contou com a presença do presidente Lula.

É inegável que a posição da direção majoritária da UNE tem expressão real na base do movimento. Por mais que se leve em conta o processo de fraudes e burocratização de suas instâncias, é explícita a capilarização de sua política pelo ensino superior, em especial nas privadas, a referência social dessa entidade e a representatividade de seus fóruns.

Por isso, a proposta de ruptura com a UNE e de construção de uma ‘nova entidade’, materializada na ANEL, não consegue responder aos dilemas que temos que enfrentar. Não basta criar uma 'nova entidade' com uma 'nova direção' para retomar a combatividade do ME - a experiência da recém extinta Conlute já o demonstrou. Uma vez que o movimento não se coloca de forma massiva em embate com as políticas dos governos para a educação, a ANEL não expressa síntese de reorganização estudantil alguma e a ruptura com a UNE se torna meramente formal.

Combater a política da UJS é disputar referência entre o conjunto d@s estudantes, que, em sua grande parte, corrobora a política tocada por este grupo. A participação nos fóruns da UNE como Oposição de Esquerda é um momento privilegiado de travar essa disputa, tendo como foco o embate ao governo e não às outras organizações de esquerda (como se deu no CNE, o congresso de fundação da ANEL).

Apesar das diferenças com os grupos que constroem a ANEL, julgamos imprescindível nos aliarmos a ess@s companheir@s em iniciativas amplas e unitárias, que se aglutinem em torno do combate direto às medidas do governo, para além das estruturas em que ess@s estudantes se organizam. Afinal, o processo de construção de sínteses e de fortalecimento de um projeto de superação só se dá na unidade em torno da luta concreta contra o processo de desmonte da educação e contra a ofensiva brutal sobre o trabalho. Só assim criaremos as condições para mudar os rumos do movimento estudantil e transformar nossos sonhos em realidade!

 

Assinam esta tese:


FT (CESET)
Bruno Eduardo Burgon Obata - Tec Construção Civil 09
Denise Vazquez Manfio - Tec Saneamento Básico 06
Jenifer Clarisse Pereira da Silva - Tec Saneamento Básico 06
Márcio da S Soares - Tec Construção Civil 06
Mônica Rodrigues - Tec Saneamento Ambiental 06
Paula Cristina Maia - Tec Saneamento Básico 07

Enfermagem
Aline Gonçalez 07
Amanda C Pansarini 06
Camila Dóris 05
Gisele Guedes 08
Juliana Turno 05
João Paulo Sartori 07
Kamila Belo 07
Liliane Dantas Pinheiro 07
Marina Akemi Fuzita 06
Nara Fabiana Mariano 04
Ulieme Oliveira Cardoso 09

Farmácia
Thays Castelhano 06

FE
Gabriela Chiareli de Souza 07
Damaris da Cruz Guedes 07
Valéria de Almeida Laura 07
Augusto Cesar Lima e Silva 09
Patrícia Amorim 08
Thaís Campanha 09
Samara Mesquita 08
Felipe Silva de Oliveira 08
Renata Rossini 06
Thamiris Raquel Mathias 06

FEF - Faculdade de Educação Física
Bruno Modesto 07
Luis Quadros "Fósforo" 09
Mariana Zuanetti Martins "Marief" 04
Marina Mitie Kawanishi 02

FEM - Faculdade de Eng. Mecânica e Mecatrônica
Luis Abner Silva Espinoza "Federal" - Engenharia Mecânica 05

Fonoaudiologia
Amanda C. Pansarini 06
César Augusto Paro 09
Gabriela Menegatti 05
Rogers k Bonaldo 06
Valquiria Miquelino 09

IA - Instituto de Artes
Gabriela Nascimento Salomé - Dança 08
Guilherme Rebecchi - Música 03 Ramon Rocha Saciloto - Música 06

IB - Instituto de Biologia
Priscila Zanotto Bosshard 05

IE - Instituto de Economia
Caio Matsui 07
Daniel M. Cardoso "Calipso" 06
Leonardo Simões Freire "Cabelo" 07
Melissa Ronconi 09

IEL - Instituto de Estudos Literários
Alexandre Baquero Lima 08
Danielle Consolino 09
Elisa Domingues Coelho - Letras 06
Evandro Marques Luiz "Torto" - Linguistica 06
Kássio Moreira do Nascimento 09
Luana de Souza Mercúrio - Letras 05
Mateus Gonçalvez da Silva 09 - Letras 09
Michel Fernando Pena 09
Pablo Gustavo de Oliveira - Letras 07
Reginaldo Alves do Nascimento "Birosca" - Letras 06
Rodrigo Alves do Nascimento "Digão" - Letras 04
Thalita Cristina de Souza Cruz - Letras 07

IFCH - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Carolina B G Figueiredo Filho - CSD05
Iuriatan Felipe Muniz - CSN07
Lívia Carolina Figueiredo – CSD05
Mariana Conti - CSD03
Patrícia Rocha Lemos - CSD04
Potiguara M P de Lima - CSN07
Samuel Ribeiro - CSD08

IFGW - Instituto de Física
Bruno Ricardi de Abreu 08
Hugo Eugênio de Freitas Cursão 09
Tobias E Gasparini 08

IG - Instituto de Geociências
Dante Pezzin 05
Diogo Ronchi Negrão 08
Fátima Juliana Marsula 06
Felipe Barbosa Gomes 09
Gabriel Oliveira 08
Henrique Queiroz "Henricon" 08
Pedro A V de Oliveira 05
Philipi Branquinho 09
Rodolfo Formiguari 05
Sérgio Henrique O Teixeira 05
Thiago Corrêa Jacovine 04
Vitor Augusto Pelegrin 05

IQ - Instituto de Química
Amanda Negreiros Pinheiro 08
André O. Guerrero "Ploc" 03
Diego de Azevedo 08
Gabriel Matos C. de Almeida 09
Luis Francisco Bianchessi 08
Rafael Augusto Caldato " Vacão" 05
Suelen da Rocha Gomes 07
Tatiana da Silva Cabral Fernandes 08
Tiago Coelho de Campos 07
Thiago Erthmann Ziliani 04

Medicina
Sarah Barbosa Segalla 08
Thaís Machado Dias 07

 

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O campo DOMÍNIO PÚBLICO tem compromisso do com a defesa da educação pública, gratuita, de qualidade e presencial, como um direito que deve ser garantido para toda a população. Acredita que o Movimento Estudantil precisa estar em constante sintonia com os trabalhadores em sua luta geral, defendendo seus direitos que estão sendo retirados pelos sucessivos governos neoliberais, processo ainda mais acentuado neste momento de crise.

    Estamos presentes em universidades como USP, Unicamp e Uniso, lutando contra o Reuni, o Prouni, a Univesp e a Uab, no combate às opressões e em defesa dos movimentos sociais.Neste ano, participamos do 8º CONUEE-SP, do 51º CONUNE, da jornada de luta comemorativa dos 25 anos do MST e muita da II Semana de Movimentos Sociais da Unicamp (organizada pelo DCE e centros acadêmicos), do 9º Congresso dos Estudantes da Unicamp, dentre outras.

 

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